Reportagem: ZLive! Rock Festival (X Edição) – 12 a 14 de junho de 2025

 


    A nostalgia bateu forte durante os últimos dias, o que me compeliu a escrever este texto. Uma forma natural e bonita, que eu encontrei para reviver os momentos, que só a música consegue proporcionar. Não lhe chamaria reportagem, mas sim, uma reflexão.

    Antes de entrar naquilo que é o texto propriamente dito, tenho de fazer um preâmbulo.

    O Z Live é um festival importantíssimo para mim. Foi o primeiro festival no estrangeiro que fui (em 2023), e foi também uma das razões que me levou a criar este blog. Aliás, 2 dos 3 primeiros textos do blog foram sobre o festival. E faz algum sentido escrever, pois já lá vão 2 anos de Blog, e nada melhor do que voltar às origens.

    Irei falar apenas das bandas que tive oportunidade de assistir de início ao fim, pelo que peço desculpa às demais bandas, já em antemão.

 

Dia 12

    O primeiro dia, na minha opinião era o mais forte em termos de cartaz. E não dececionou, aliás superou-me as expectativas.

 

Vola com um Prog moderno muito apetecível

    Esta foi uma forma de conseguir ver Vola ao vivo, apesar de irem ao Comendatio, a minha agenda ‘obriga-me’ a ir até Beja para o NADA Fest.

    Vola veio com o típico setlist desta Tour, significando canções mais recentes. E essa sonoridade encontra-se mais estacionada entre o Rock e o Metal (mas sempre com o sufixo de Progressivo associado). Muitos elementos mais industriais e eletrónicos, transformando a atmosfera em algo bastante visual. Djent é uma palavra que nos vem à cabeça quando ouvimos apenas alguns segundos da sua prestação. O clássico “Stray the Skies”, do primeiro álbum, é o ápice.

    Uma performance forte e cuidada. Tocar às 17H nunca é fácil, em particular, quando o seu espetáculo funciona simbioticamente com jogo de luzes. Ainda assim não desapontaram, e entregaram o mote perfeito para o resto do dia.

 

Nile e a sua perícia musical

    A qualidade técnica dos Nile só é ultrassada pelo seu enorme peso. O set estava cheio de ‘bujardas sonoras’, desde o mais recente álbum, passando pelos clássicos “Sacrifice Unto Sebek”, “Kafir!”, “In the Name of Amun” e “Black Seeds of Vengeance”. Houve uma certa constância, naqueles cerca de 50minutos, e foi: Agressividade em forma de ondas de pressão.

    Nile teve a honra de iniciar a época de Mosh Pit do Festival! E os festivaleiros esforçaram-se para não deixar apagar a chama.

    Uma atuação que passou demasiado rápido, e estava a ser uma viagem tão boa. Aquela que contém maior poder é sem dúvida “Lashed to the Slave Stick”, onde a banda entregou toda a sua energia, que serviu para alimentar o Circle Pit.

    Foi bom rever Nile, e este set foi ideal para os fãs mais Old School da banda, porém perfeito para quem quisesse conhecer a banda.

 

Exodus = MOSH

    Finalmente consegui ver Exodus! A minha felicidade foi canalizada para o Pit (que eu auxiliei na sua génese). Ora seguia a primeira nota de “Bonded By Blood” e só se via pó no ar – o Circle Pit tinha iniciado (e só terminaria na última nota do último tema).

    Exodus são os mestres da festa; Exodus são os engenheiros da diversão. Pois bem, festa e diversão foi algo que não faltou ao recinto do Ifeza em Zamora.

    Dança também não faltou, aliás houve mesmo valsa. Quando se fala em valsa num contexto ´mais metálico', há apenas um hino que nos vem à mente: “Toxic Waltz”! O ponto-chave da tarde/noite, onde quem não sabia o que fazer num Pit, terá aprendido (bastava escutar a letra eheh). Eu admito que de facto dancei a valsa, lá no meio do Pit, quer dizer, pelo menos tentei. Os mais atentos terão escutado um pequeno trecho da “Raining Blood” – Gary Holt gosta de espicaçar os fãs do Thrash.

    Um set perfeito para quem gosta de Thrash no geral, mas acima de tudo, para quem é fã do conjunto norte-americano.

 

Meshuggah, conseguiram ouvir o Djent?

    SIM! O Djent é real! Meshuggah lançou aquele, que na minha humilde opinião, foi o melhor concerto de todo o Fest. Bujarda e perfeição são sinónimos que não fazem jus ao concertão que se viu em Zamora.

    “Rational Gaze”, “Combustion”, “Born in Dissonance, “Bleed” e “Demiurge” tudo na mesma noite! Um sonho realizado (mais um).

    O som estava no ponto! A iluminação atribuiu uma textura adicional à apresentação, melhorando a experiência de todos os espetadores. A genialidade na composição é igualmente executada ao vivo, dando a sensação de que são melhores assim, do que em estúdio.

    A melhor prestação do festival! Eu disse-o logo no final do show, e a verdade é que houve bons concertos, antes e depois deste – só que nenhum marcou tanto.

 

Dream Theater a mostrar como se faz música

    Dream Theater era uma daquelas bandas que nunca me iria desiludir (sim eu sou fanboy, mas racional ok?). Puros Arquitectos na performance musical. Criatividade, técnica e dom musical são coisas que não faltam a nenhum dos 5 elementos.

    O set não foi perfeito (para mim), foi pena terem retirado “The Best of Times” nesta parte da tour. Ainda assim, a adição de mais uma malha do álbum Metropolis foi mais do que bem-vinda.

    É difícil destacar uma canção, porque todos foram incríveis. Talvez a surpresa seja “Peruvian Skies”, que com uns excertos de Pink Floyd e Metallica tornaram o tema mais atraente. E claro, um tributo às origens que a banda não quer esconder de modo algum (e nós agradecemos). Ouvir em Open Air foi uma estreia para mim, no que toca à banda, e a verdade é que o som fica exponencialmente melhor.

    Como fã derreti-me a ouvir (novamente) “Pull me Under”, e naqueles minutos voltei a ser o adolescente que ouvia essa música vezes sem fim…

 

Rotting Christ e o seu Black Metal dançante

    Eu tinha visto os gregos a tocar no festival Under the Doom no ano passado. Pelo que eu já sabia que estes artistas não brincam, e entregam um show daqueles de pura selvajaria (musicalmente falando).

    Poucas malhas demoraram até se abrir o Pit. Respondendo aos céticos: “Sim há mosh no Black Metal!” A energia fluía por todo o recinto, percolava por entre cada um dos presentes. Num ciclo sem fim, que confirmava a 2ªlei da termodinâmica: porque o estado de desordem neste sistema fechado nunca diminui durante toda a atuação do quarteto da Grécia.

    Um concertão, que me dificulta imenso a sua descrição. Apenas numa palavra diria: Grandiosidade! Com uma presença de palco, gigante, e com a interatividade no máximo, para com quem os escutava devotamente.

    Foi bom ouvir ao vivo “666”, que me preenche sempre a alma.

 

Vita Imana a surpresa da noite

    Uma banda espanhola que nunca tinha ouvido falar. Bastaram 30 segundos para perceber que este grupo vinha para tocar a sério. Uma sonoridade que nos remeteu imediatamente para Slipknot e Sepultura (no álbum Roots). Groove com Nu Metal agudamente energético, para lá da capacidade atómica.

    Nasceram para iluminar um palco, pois eles são feitos de pura luz musical. Os temas eram todos altamente ricos em potência cósmica. E numa das malhas ouviu-se aquilo que eu juro que era Grindcore, extremamente rápido e pesado, destacando-se excecionalmente das demais tocadas pela noite. Penso que fosse “Licantropo”, todavia, não tenho a certeza.

    Uma surpresa super agradável, e relembrando-me que uma das melhores experiências em festivais, é mesmo descobrir bandas novas. E os Vita Imana já incorporaram o meu rol.

 

Dia 13

    O segundo dia tinha um decréscimo em relação ao anterior. Ainda assim havia bandas que queria ver demasiado.

 

Salduie mais uma surpresa

    Mais uma banda espanhola, e mais uma vez, uma excelente experiência.

    Um som Folk de pura festança, que obrigou os festivaleiros a dirigirem-se mais cedo para o recinto. Vitalidade contagiante, que se alastrou imediatamente por todo o recinto – e ninguém está imune! Walls of Death e muito (enfâse no muito) Circle Pit.

    Salduie deu o pontapé de saída, para um dia repleto de festa.

    Mais uma banda para a minha lista.

 

Angelus Apatrida e o Thrash Metal está mais vivo do que nunca

    Angelus Apatrida dispensam apresentações, são reis do Thrash Metal Espanhol. Numa prestação deveras dinâmica e repleta de puras malhas. Realizando um périplo pela sua discografia, como “Indoctrinate”, “Cold” e “Sharpen the Guillotine” só para referenciar algumas.

    Os metaleiros vibraram imensamente durante a atuação dos Thrashers, evidenciando o carinho pela banda nacional. Entoou-se em uníssono, os refrões de quase todas as canções, por todo o espaço.

    Velocidade e groove foram sentidos, e permitiu um excelente aquecimento para o que vinha a seguir.

 

Alestorm e ninguém para a PARTY!

    Alestorm arrancou o concerto, e pronto já se sabia o que aí vinha: F-E-S-T-A !

    Não há um único tema em que não houvesse alguém a fazer algo típico de um espetáculo de Alestorm. Para os que não estão familiarizados, imaginem confusão e loucura mesclada com pura diversão. Não conheço ninguém que não se divirta em Alestorm.  Na verdade, só há dois tipos de pessoas nestes gigs: os que se divertem ao entrar na loucura do Mosh e tudo e mais alguma coisa, que se faz por ali; e os que se divertem a ver os primeiros.

    Loucura, empenho e festejo é algo infinito nas performances dos escoceses. A verdade é que há sempre algo a acontecer, seja no palco ou fora deste. E há sempre alguém que tem uma ideia nova para levar para o show. Neste por exemplo, alguém decidiu aparecer com uma banana insuflável lá pelo meio.

    E para os descrentes, que dizem que não existe o género de Pirate Metal: amigos ninguém quer saber, a malta só se quer divertir!

    Alestorm mostrou como se faz, e foram um dos pontos altos do dia 2 do Z Live.

 

Accept um Clássico que transpira história e qualidade

    Accept demonstraram que qualidade melhora com a idade. O seu power em palco meteu inveja a demasiadas bandas que por aí andam.

    Uma daquelas bandas da velha guarda que vive a música de uma forma, que só as bandas daquelas décadas o conseguem manter durante quase 50 anos. Quem conhecia adorou, e os que se encontravam mais reticentes ficaram convencidos.

    O fecho “Fast as a Shark”, “Balls to the Wall” e “I’m Rebel” culminou numa atuação que foi sublime e colossal.

 

Dia 14

Rhapsody of Fire com um POWER METAAAAAALLL (voz de power de metal)

    Um dos grandes nomes do Power Metal! Nunca tinha visto, adorei, adorei e adorei.

    Uma qualidade técnica maravilhosa aliada a um sentido de melodia cintilante. O resultado: Pura Magia, ou isto não fosse Puro Power Metal. Com elementos sinfónicos que enriquecem ainda mais a mistura final.

    Os clássicos “Dawn of Victory” e “Emerald Sword” luziu por toda a cidade de Zamora, e naqueles minutos, fomos transportados para terras longínquas de fantasia. Fomos os heróis nas nossas próprias histórias. Viajamos num cavalo alado em busca de riquezas, e para as pilharmos só teríamos de chacinar um Dragão. E sim é este o tipo de sentimento que Rhapsody of Fire nos transmitiu. Um sentimento de poder, valentia e coragem. Uma mensagem que deveríamos levar para as nossas vidas, a que ‘somos donos das nossas decisões, e que podemos ser melhores’.

    Uplifting é a melhor caracterização do estado de espírito no final do desempenho da banda. Passou demasiado rápido, ou a magia destes magos italianos dobrou o espaço tempo.

 

Sepultura do Brasil (e do Mundo)

    A última tour do quarteto brasileiro obrigou os metaleiros ao êxodo até Zamora. Uma das bandas mais emblemáticas, com mais história do Brasil, e de todo o Universo do Metal.

    A inquietação era tanta da parte da plateia, que nem foi preciso Andreas Kisser tocar o primeiro acorde. Alguma faísca da parte do público despoletou um Mosh Pit (guilty!), e depois entrou “Beneath the Remains”, seguida de “Inner Self”. E pronto daqui até ao final o Pit nunca mais iria parar, e como um verdadeiro buraco negro continuou a sugar elementos para o seu interior.

    Cardápio musical de pura lenha a granel (como se diz em ‘bom português metálico’), ouviram-se novas, e ouviram-se clássicos. O veredicto é que todos vibraram independentemente de qual a malha estaria a ser tocada. Os fãs estavam loucos, e queriam mais e mais. Crowd Surfing foi algo transversal ao gig. Com celebração, e animação nos semblantes de todos (todos mesmo).

    O concerto voou de forma tão célere, porém quando entramos em “Orgasmatron” seguiu-se uma sequência de absurdidade sonora, “Troops of Doom”, “Terrtory”, “Refuse/Resist”, “Arise”, “Ratamahatta” e claro “Roots Bloody Roots”. Excusado será dizer que em “Roots Bloody Roots” a doidice adquiriu dimensões para além da compreensão humana.

    Um dos melhores concertos do festival, e uma noite que ainda hoje trago no meu coração. Um gig daqueles que ainda estou a reviver, passados já alguns dias. Acho que o apogeu foi ouvir/ver Sepultura na verdadeira e singela convicção de que esta seria mesma a última vez que os iria ver. Quem sabe, pode ser que ainda passem cá em Portugal (fingers crossed).

 

Dark Funeral para gelar a noite (ou não)

    E não é que os Dark Funeral arrancaram logo com “Unchain my Soul” – que começo!

    Mais um momento atípico de Black Metal, muita interação com o público. E uma presença bastante calorosa, para uma banda de um género que se esperaria gelar a atmosfera.

    Hinos como “Nosferatu”, “Let the Devil In”, “Open the Gates” e “Where Shadows Forever Reign” fizeram parte do menu.

    Uma performance bem conseguida, e principalmente bem recebida. Apesar de tudo, esperava-se mais gente. Talvez se estivessem a guardar para o que ainda estava por vir.

 

Nanowar of Steel a verdadeira surpresa de todo o Festival

    Eu não conhecia Nanowar of Steel. Aliás ouvi uma canção antes do festival, e não fiquei convencido. E nada, nada nesta vida, me poderia ter preparado para este acontecimento.

    UMA SURPRESA! Uns performers e uns entertainers como nunca se viu! Não foi necessário muito para eu ficar completamente agarrado a esta banda.

    Uma intensidade e um júbilo que não se esgotava de modo algum. Puseram os fãs a cantar coruja em italiano, enquanto imitavam o bater de asas por todo o recinto ( imaginem só). Entre outras, só que eu não disponho de capacidade descritiva para ilustrar o que ali se viveu - recomendo que assistam à banda (caso vos seja possível, a sério). Temas super criativos, e sempre com um lado cómico à mistura.

    Uma daquelas bandas dignas de fechar um festival! Queremo-los em Portugal a fechar festivais!

    Fiquei fã!

 

 

    O festival revelou-se uma gigante surpresa. Desta vez tive a oportunidade de ir acompanhado com uns grandes amigos, e que claramente tornaram esta experiência em algo infinitamente grandiosa. Obrigado pela companhia malta, a sério!

    Um grande obrigado à organização, bandas e todos os que de alguma forma contribuíram para o festival.

    Um grande obrigado aos festivaleiros, pela presença e entrega. E aproveito para agradecer aos nossos ‘vizinhos de acampamento’, porque eu ainda hoje me estou a rir com os gritos de “ROOOOOOTS” no final da última noite do Fest.

    Um festival que quero regressar, e que se calhar será já na próxima edição.

     Muchas Gracias!



Vou deixar apenas, aquele que é na minha modesta opinião, TOP de concertos:

  1. Meshuggah
  2. Sepultura
  3. Dream Theater
  4. Rotting Christ
  5. Exodus

E já agora o TOP de surpresas:

  1. Nanowar of Steel
  2. Vita Imana
  3. Salduie

 


    Querem-se mais festivais! Quer-se boa música, bom ambiente e bons festivaleiros! Querem-se momentos destes onde possamos ser livres e abraçar a música, e poder recordar mais tarde. Querem-se experiências musicais, e partilha dessas mesmas experiências.

    É isto que é metal! É isto que é O Peso do Metal!


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