Reportagem: Almada Deathfest – Hollywood Spot, Feijó – 05/04/25
O dia mais importante para os
metaleiros da Margem Sul chegou! É dia de Almada Deathfest! O Hollywood Spot
transforma-se num local de culto metálico, e é com atração magnética que puxa
todos os ouvintes da música extrema, de Almada e arredores, de toda Grande
Lisboa, e enfim de todos os cantos deste pequeno retângulo, que se situa no
limite inferior esquerdo do continente europeu.
A receita que se apresenta no menu
são 6 bandas. 3 para cada uma das partes, sendo interrompido a meio com uma
pausa para o jantar. A primeira parte conta com Blasphemous Blade, Critical
Hazard e Ruttenskalle. A segunda parte conta com Phenocryst, Voidwomb e Scent
of Death.
À hora prevista arrancam os
Blasphemous Blade, também já foram conhecidos como Moon Presence. Death Metal
com um toque moderno à mistura, sem nunca descurando aquilo que é a essência do
Death Metal. Muita energia em palco da parte de todos os membros, e deixaram
bem vincada, a sua vontade de espalhar a sua palavra profana, veiculada através
da música.
Em temas como “My mercy, my
demise” vê-se o enorme potencial latente, que em cada gig que passa se
transforma, cresce e evolui para algo muito apetecível aos tímpanos de toda a
comunidade metaleira. E claro o ponto alto da sua atuação, a meu ver, é com “Selenophobia”.
Uma atuação que transpira vontade, potencial e energia, ahhh e claras
acrobacias (esta referência fica apenas para os que estiveram presentes eheh).
Avançaram os Critical Hazard com
o seu potente Death Metal Melódico. Aqui está um caso de uma banda que com o
passar do tempo, de alguma forma, o seu som vai-se auto-refinando. Cada
concerto que passa, as suas músicas tornam-se melhores; os seus temas fluem
ainda mais facilmente pelos ouvidos. São das melhores bandas do género, em
Portugal – e deixaram isso claro, mais uma vez. Os riffs são carregados de uma
melodia sombria, que nos transporta para pesadelos místicos. A energia canalizada
sobre a forma de ondas sonoras entranha-se por cada um dos presentes, e é
impossível não curtir a atmosfera criada.
Temas como “Dracul” mostram a
verdadeira essência deste quinteto, que tem uma capacidade incrível que criar
uma vibe, incontornavelmente, lúgubre com as suas melodias e voz, ornamentadas
pela velocidade frenética com que a bateria castiga o som aterrador, e claro o
baixo que nos mantém colados ao chão com aquele groove. Os temas altos da noite
são sem dúvia “Madame Popova” com um ping pong de solos que nos deixam loucos, através
de pura beleza artística; e o novo tema, pelos menos nesta sala, “Ghost of Sparta”,
onde fica deveras evidente a evolução, tanto na composição como na entrega do
som produzido. Muito se espera dos Critical Hazard para o futuro.
Ruttenskalle dispensam de
apresentações. Banda de Death Metal com pendor no movimento de Estocolmo, ou
seja, com o som distinto do serrote elétrico. A banda tem uma capacidade formidável
de criar sempre uma aura bastante pesada e fúnebre, que é imediatamente
dilacerada pelo som característico do Death Metal Sueco, que nos hipnotiza o
corpo e nos teletransporta a mente para um bar underground em Estocolmo no início
dos anos 90.
“Chaos” é uma canção que engloba
aquilo que esta banda representa, desde a vibe e aura pesada e carregada de
medo, desde o tom das guitarras bem enfeitadas pelos pedais típicos do género, desde
a voz executada na perfeição, e claro a bateria que tanto preenche a atmosfera
negra de fel. O público por sua vez, foi perdendo a vergonha e começou a manifestar-se
através de muito headbanging.
Uma excelente forma de irmos para
intervalo, mas a verdade seja dita, já íamos de barriga bem cheia (de pura
música).
Retornados do jantar, avançamos
para os Phenocryst. Death Metal puro e duro! Intros sombrias para criar tensão,
para depois serem marteladas por riffs e blast beats estonteantes, que nos esventram
a alma de tão bom que sabe. Os sorrisos nas caras dos presentes não deixam
dúvidas, este é o som que se procura num festival de Death Metal. A pausa foi o
catalisador necessário para libertar a plateia. A sala também já se encontrava
mais composta, o que tornava a experiência muito mais enriquecedora, para
todos.
Voz cavernosa que nos guia pelas
terras da perdição humana; riffs tremolados que nos hipnotizam, com uns pinch
harmonics que nos fazem acordar do sonho, por momentos efémeros; o baixo
Jazz que era martelado pela palheta, como que um ferreiro que esculpe uma arma,
com tamanha paixão no seu ofício; blast beats infernais que nos fazem lembrar
que esta é a música do diabo, e até ele teria medo desta atmosfera vibrante,
que iluminou com a mais pura escuridão, todo o Hollywood Spot. Em suma é este o
som do Phenocryst!
Seguiu-se aquilo que na minha
opinião foi o ponto alto de todo o festival: Voidwomb! A banda que mistura elegantemente
o Black com o Death, trouxe consigo toda a energia herética, vinda diretamente
de Viana do Castelo. O seu som só pode ser descrito como profano. Soa tão bem
aos ouvidos, que só nos dá vontade ouvir mais, e mais e mais. A atmosfera
criada é quase ritualística, como no tema “Liberation” onde os instrumentos são
empunhados em frente dos corpos dos músicos, para depois seguirem para uma
verdadeira libertação catártica. A sala em peso acompanhou esta performance de
pés bem pregados ao chão, porém da cintura para cima era impossível controlar
os movimentos do corpo - devido à ação sonora dos arpejos menores bafejados com
tremolos e blast beats, desde as intros impias até aos riffs propriamente ditos.
Os temas tocados passearam-se pelo
álbum de 2024 e pelo EP de 2021. A destacar o tema “Altars of Cosmic Devotion” que
encapsula tudo o que banda representa e transmite. E a última “Vesselvoid”
muito ritualística, sacrílega e sinistra, que nos deixou viciados nesta sonoridade,
repleta de podridão, e tal como o nome da banda indica, vem diretamente do Void
– e aquele riff em tremolo não me saí da cabeça, por mais que tente. É a música
da perdição que para muitos é o único caminho da salvação. A banda promoveu uma
energia formidável no festival, libertando todos os tímidos que se encontravam
na sala. Entregou uma atuação perfeita. E os que ainda não eram fãs, certamente
ficaram.
A última banda a subir o palco
foram os Scent of Death, vindos da Galiza, contando com um português na
bateria. Um som que se passeia entre o Brutal Death Metal e o Death Metal
Técnico, e assim que começa a energia transmite-se rapidamente e já ninguém
sabe quem é o paciente zero, tal era a capacidade contagiante deste som! Muito
bruto, muito rápido – desafiando as leis da física e da anatomia humana. Um espéculo
tanto para se ouvir como para se assistir. Do início ao fim, todos os músicos
se entregaram com uma dedicação transcendental.
Prestação invejável, e são notórios
os anos de experiência em palco, principalmente na calma e na presença em
palco. Os que vinham à procura de música brutalíssima, tiveram finalmente as
suas preces acudidas. Aqui o público manifestou-se com muito headbanging,
evidenciando a sua devoção pela música. Ainda houve tempo para a participação do
Sérgio (penso que no tema "Feeling the Fear"), vocalista dos Bleeding Display, que já foi no passado vocalista dos Scent of Death. A atuação dos Scent of Death era o ponto final que
este festival merecia, a melhor forma de fechar a noite.
Um festival muito bem conseguido! A plateia aumentou ao longo da noite, e estavam mais pessoas do que na edição anterior. Querem-se mais festivais destes, querem-se mais eventos como este. Os meus parabéns à organização e deixo também a minha palavra de agradecimento. Aproveito para agradecer, também, a todas as bandas e a todos os que puderam tornar o festival possível, em especial ao Hollywood Spot. Agradecer ao público, pois sem eles não há nada disto. Agradecer ainda a todos os amigos que vou revendo nestes eventos, pelos bons momentos e pelas memórias criadas.
Vamos continuar a espalhar música, e continuar a propagar a magia do underground. Há muito talento cá na tuga (e não só), e este festival foi só mais uma prova disso mesmo. Desejo a maior das sortes para todos os artistas, e para todos, que de alguma forma tornam o underground possível.
Querem-se mais noites como esta. É isto que é Metal! É isto que é O Peso do Metal!
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