Review de ‘Resurge from Underneath’ dos Resurge


    Old School Death Metal é daquelas coisas que faz mexer com todos os fãs do metal. Death Metal é bom, mas se for à moda antiga até sabe melhor. E é mesmo isso que os Resurge trazem com este álbum, que o nome diz tudo. Acaba por ser bastante simbólico dado a forma como a banda se formou, aliás até o próprio nome da banda. A banda surge após o término dos Underneath, e esta nova formação ‘ressurge’ assim dos Underneath, bom vocês percebem a ideia, ideia que é muito engenhosa e bastante simbólica, acrescenta-se.

    Formada pelo Vocalista David Bento, o Guitarrista Luís Neves, o Baixista Sérgio Garraio e o Baterista Ricardo Neto. Este quarteto promete espalhar o seu som poderoso, pelo mundo.

    Olhando para a capa temos logo uma impressão obvia de que se trata de OSDM, pois faz-nos lembrar as capas dos álbuns do início dos anos 90, finais dos 80. A capa é muito sombria e transmite esse tipo de sentimentos de forma bastante intensa, e há depois a combinação de cores, que é simplesmente perfeita.

    


1 “Resurge - Intro”

    Nada melhor do que uma intro instrumental para nos ambientar, para nos acalmar antes da viagem vertiginosa. Ficamos totalmente embrenhados na temática soturna e tenebrosa. Um riff lento, só que melancólico, com um baixo que nos promete destruição e uma bateria que nos mantém em suspense. Sabemos que irá começar, e que vai ser totalmente brutal. Do nada surge a voz de David “Resurgeeeee….Resurgeeee…” que nos faz tremer, não dá para esconder, isto é: Old School Death Metal. Agora começa.


2 “Resurge from Underneath”

    Pelo nome sabemos que é a música mais importante do álbum, pois é o tema homónimo, e é com este tema que se transmite a mensagem de ressurreição, de ressurgimento ou de regresso deste grupo.

    O riff é acelerado e enérgico típico do movimento do Death Metal da Flórida nos finais dos anos 80. A voz lembra-nos bandas como Obituary, Morbid Angel ou os primeiros álbuns de Death. Mudanças de ritmo que nos compelem a fazer headbang, que nos remetem para desespero, para a perdição – o sentimento projetado pelos músicos é tão real que até custa a acreditar. Assim do nada, aos 2:21min mete-se por ali uma linha de baixo, puxada de alguma escala menor, que nos deixa perplexos. Tema potente que abre o jogo para as restantes 7 faixas. Desta-se que é um dos temas mais potentes do álbum, que dá o mote perfeito para o que aí vem.


3 “Blame It on You”

    Começa logo com um binómico bateria-guitarra de pára-arranca providenciando um groove estonteante – belo início pela palheta de Luís e pela baqueta de Ricardo. Somos apanhados por uns blast beats do inferno, temperados com uns tremolos caliginosos, que nos arrepiam a espinha, todavia se tivéssemos num gig haveria mosh pit certamente – tamanha energia. Há várias mudanças rítmicas ao longo da música, evidencia um bom conhecimento de dinâmicas. Mas aquilo que quero salientar neste tema é a harmonia. A guitarra casa perfeitamente com a bateria, desde a intro; a voz coaduna-se impecavelmente com as alternâncias rítmicas; e o baixo encontra-se na zona mais bass (sons mais baixos), que pode passar despercebido para os ouvidos mais desatentos, contudo há sempre espaço para lhe dar destaque. Algures na fase final da faixa parece que há ali umas passagens de tapping na guitarra, evidenciando a polivalência dos artistas, no que concerne à técnica.


4 “Mindless Greed”

    Este tema desde o primeiro acorde que transpira Death Metal! O momento de apoteose ao género, o momento de relembrar os anos de ouro desta linda família de Metal. Tem tudo o que é suposto ter:  o riff pesado e rápido, a bateria que nos parte o pescoço, a voz enquadrada naquilo que se pretende e até as temáticas estão lá. Destaca-se ainda aquele que é na minha opinião, ainda que curto, um dos melhores solos de guitarra.


5 “Graft of Reluctance”

    Aquele que para mim é o tema que melhor encapsula o género a que este álbum se compromete a representar. Intro assustadora para nos prepara: é calma e ninguém desconfiaria da bujarda que aí vem. Tem uns tremolos que nos mordem os tímpanos incessantemente, que desaceleram e nos mandam para notas mais agudas – hipnotizante. As mudanças de ritmo são uma loucura sonora que nos fazem querer mais. A bateria fiel ao estilo não desaponta nunca. O baixo do Sérgio preenche todas as lacunas, lembrando que o baixo no Death Metal também tem uma personalidade própria. O David não nos dá descanso e transporta-nos para as garagens da Flórida, onde o talento brotava a cada esquina. O tema é sombrio do início ao fim, mesmo que acelerado o sentimento de ruína persiste longitudinalmente ao tema.


6 “Entombed in Torment”

    Uma breve pausa instrumental, para nos dar algum descanso. A viagem até aqui tem sido demasiado frenética, e este interlúdio faz algum sentido e dá ao álbum uma certa variedade.


7 “Circle of Death”

    Sons de sino de igreja que batizam os nossos tímpanos, fundidos com o riff inicial e batida inicial. Há algo de funesto assim que se ouve os primeiros segundos do tema, ou não fosse o título da faixa “Circle of Death”. A banda consegue transmitir exatamente aquilo que o tema sugere. O tema apresenta diversificação descomedida e dinâmicas muito interessantes. Este é talvez o melhor tema do álbum. E depois da breve pausa era isto que se queria. O tema congrega em si aquilo que é o sentimento da efemeridade da vida e que ninguém consegue escapar ao destino final de todo o ser humano: a morte. O tema é profano e deixa-nos uma sensação de inquietação. Novamente a palavra do jargão musical que é necessário empregar é harmonia. Pareço-me repetitivo, embora não há outra forma de falar destes brutais sons sem abordar a questão que para mim está a ser um check em todas.~


8 “Vehemence”

    Bujarda! Aquela intro de baixo deixa-nos logo derretidos. A voz é profunda e carrega um sentimento de pesar, e encaixa perfeitamente nos tremolos violentos. A bateria projeta-nos para a frente, com um groove sobrenatural. Há um ligeiro interlúdio bastante atmosférico, e voltamos à ação. Mais um solo formidável, que parece que não é deste mundo. E no final cada blast beat é uma cavilha que nos prende ao chão, mas a nossa cabeça fica nas nuvens a abanar incansavelmente.

 

9 “The Epitaph”

    É o último tema do álbum, e se havia dúvidas o nome da faixa não nos deixa dúvidas. Contudo, para ser mesmo o epitáfio, isso implicaria o fim de algo, e para mim, este álbum é só um começo. Esta música só nos deixou a querer mais, muito mais. Pesada e arrastada é assim que começa, pincelada com uns bendings numas notas mais agudas e com uma voz infernal que nos transporta para a dimensões de perdição e terror, e lá no fundo um baixo que nos mantém em suspense. É a melhor forma de fechar o álbum, o tema é pesado e transporta em si um sentimento ainda mais pesado. Até o solo nos mantém neste estado melancólico e de pesar. As dinâmicas e alternâncias mantém-se, dando umas certas lufadas de ar fresco, (se bem que lufada de ar fresco tem sido este álbum desde o primeiro acorde). O tema deixa algo que em suspenso, deixa-nos a querer mais. É como ver um filme de terror e sentirmos aquele cliffhanger, mesmo a pedir uma sequela. Pois é com esse sentimento que se fica no final. Quere-se mais!

 


    A banda Resurge ressurge assim, com uma bela obra de Death Metal com pendor na onda Old School. Carregado de simbolismo e de mensagem para os membros, e dos membros para o exterior. Um grupo com um enorme potencial nas terras do Death Metal, que já se encontram bastante exploradas, no entanto, este quarteto encontrou uma forma bastante criativa de ainda assim, soar a novo e a inédito.

    Conseguem abrir, basicamente, todas as músicas com intro muito diferentes entre elas, e todas muito boas. Dando assim ao ouvinte uma sensação de que o que se está a ouvir é sempre novo e diferente – e é novo e diferente. Adorei as harmonias conseguidas em praticamente todas as faixas, mostra-me que estes músicos sabem o que estão a fazer, e que têm gosto em fazê-lo. As mudanças rítmicas, e em alguns casos os interlúdios, parecem mesmo feitos para serem escutados ao vivo, dando algum oxigénio aos aventureiros dos mosh pits e crowd surfing.

    Sou suspeito por gostar, porque das várias estirpes e sub-ramos do Death Metal, aqueles que me fazem vibrar são a onda mais Old School e a onda Melódica. E os Resurge surfam a onda Old School com uma pinta, que parecem até deslocados da década de onde estão inseridos. A banda tem o peso e a velocidade, têm uma bateria feroz, têm uma voz bem estruturada (que se consegue perceber o que é cantado) que nos remete muito para Morbid Angel, têm umas dinâmicas muito bem conseguidas que nos fazem continuar sem nos enfadar, mas concomitantemente sem nos distrair do nosso objectivo: escutar um belo álbum de Death Metal à antiga!

    Digo sem qualquer pejo que este foi um dos melhores álbuns de Death Metal que ouvi nos últimos meses, e que é o melhor deste ano até agora.

    Em tom de conclusão, o álbum é 4.5/5. É aquilo que eu gostaria de ouvir num álbum de Death Metal na zona do Old School. Tem tudo o que é suposto, embora vá além disso. Boas dinâmicas e muita boa harmonia. Pesado e profano. E acima de tudo, conseguem transmitir sem dificuldades os sentimentos a que este género nos habituou, há uma certa naturalidade na forma como nos entregaram este álbum.

    Podem ouvir o álbum no Spotify, no BandCamp ou ainda no YouTube.

    Para conhecer a banda ao vivo deixo aqui algumas datas:

  • 03/05 no Texas Bar em Leiria
  • 08/06 no Socorro no Porto
  • 18/07 no Festival Laurus Nobilis
  • 01/11 no festival Patrimónios de Peso

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