Crypta tomou de assalto os ouvidos dos metaleiros em Almada
O Cine Incrível em Almada foi ocupado pelas vestes negras e war
vests; cabelos longos e calçado escuro. Significaria apenas uma coisa –
noite de metal. As protagonistas da noite seriam as Crypta, banda de Death
Metal vindas do Brasil. Esperam-se temas do seu álbum de 2021 Echoes of the
Soul, no entanto todos aguardam por pequenas espreitadelas do futuro álbum Shades
of Sorrow, que deverá ser lançado este ano.
As bandas de abertura, Mass Disorder e Besta, serviram de um excelente aquecimento e entregaram-se ao publico de Almada com uma força incrível, criando desse jeito o mote essencial para o concerto principal da noite. Noite essa, que ainda ia curta na Rua Capitão Leitão em Almada, mas que brevemente se iria transfigurar num momento épico e inesquecível para todos os que se encontravam na sala.
Ainda no soundcheck podemos verificar a baterista da banda Luana Dametto a preparar o seu destacado kit de bateria, sempre com um sorriso na sua face – evidenciando a felicidade que é para ela tocar na banda, e poder transmitir as suas emoções, veiculadas por um instrumento musical. O publico, maquinalmente, responde com sorrisos.
Um pouco antes das 21:40 começa-se a ouvir a intro, e as
restantes integrantes da banda, em fila, entram em palco. E começam com tudo! O publico
da Margem Sul recebe toda essa energia e começam os ciclos perpétuos de mosh
pits e crowd surfing, que se misturam e que se conservarão durante todo o concerto.
Ao longo do concerto é incontestável a sinergia entre cada
uma das artistas. Quando a guitarrista Jéssica di Falchi se envolve num solo de
guitarra, a baixista e vocalista Fernanda Lira junta-se à guitarrista Tainá
Bergamaschi e cumplicemente tocam, emanando uma energia que se impregna na sala
e nos invade, e em simultâneo Luana Dametto arrasa com a sua bateria – é impossível
não abanar a cabeça.
Após alguns temas seguidos, Fernanda Lira saúdam-nos com “Boa
noite Almada” e seguem para “Kali”. Neste tema pedem a ajuda de todas as
mulheres na plateia, e estas manifestam-se mostrando que a sala estava repleta
de mulheres, e os homens respeitam humildemente – o metal é isto mesmo é
integração, não distingue sexo; o metal é o local para estarmos bem, não existe
discriminação ou sexismo. Com certeza que a banda servirá de inspiração a muitas
mulheres que existem pelo mundo, que ainda têm receio de enveredar por uma
carreira musical no metal, por sentirem que é um mundo de homens.
De vez em quando Fernanda Lira avisa-nos se a próxima música
não é para os fracos de coração, como acontece antes de "Starvation". E neste
tema podemos testemunhar um momento sublime em que Tainá Bergamaschi e Jéssica di
Falchi, e claro Fernanda Lira se dispõem lado a lado, e de forma altamente coordenada
e ritmada, viram-se para a sua direita, voltam a ficar de frente para o publico
para se entregarem ao headbanging, repetidamente.
Antes de se lançarem ao 1º single do futuro álbum, Fernanda
Lira relembra todos os presentes que o próximo álbum estreará no dia 4 de
Agosto, e o publico responde positivamente e ansiosamente – mentalmente todos
começam a contar os dias para esse lançamento. Tainá Bergamaschi chega-se à
frente para nos mimosear com a introdução melódica da “Lord of Ruins” – entra-se numa
meditação coletiva enquanto a melodia é tocada – e nota a nota somos invadidos
por uma vivacidade harmoniosa indescritível.
A meio do concerto desabafam dizendo que é bom na tour
poderem falar em português com os fãs, e estes reagem calorosamente. Tivemos
tempo ainda para o 2º single do novo álbum, "Trial of Traitors", que é recebido indiscutivelmente pela
comunidade metaleira congregada no Cine Incrível.
Ao longo de todo o concerto, religiosamente, a banda é
brindada pela plateia com a aclamação “Crypta Crypta”, sempre que as artistas
terminam uma canção. E o quarteto não consegue camuflar as emoções vividas em
Almada, e pela voz da vocalista ouvimos as seguintes palavras “Esta noite vai
ser inesquecível para Crypta com certeza”. Agradecem ainda a todos os fãs,
dizendo que somos nós o combustível para a existência de Crypta. Agradecimento
muito bem recebido pela plateia que automaticamente entoa “Allez Allez Crypta
Crypta”. E, infelizmente, avançamos para aquele que seria o último tema da
noite, carregado de simbolismo seguramente, pois tratar-se-ia do primeiro tema
alguma vez lançado pelas excelentes 4 artistas – “From the Ashes”. O tema
apinhado de emoção, com uma mensagem forte sobre Renascer, Reinventar e Transformar
– renascer das cinzas como uma fénix, e acreditem após este concerto todos nós
individualmente teremos renascido. E o povo de Almada acompanha Fernanda Lira
no refrão “Rise! Rise! Rise! From the Ashes”.
Durou pouco mais de uma hora, mas a viagem foi tão rápida para quem se divertiu que pareceram apenas 5 minutos. A banda saí, calmamente, claramente emocionada – fica-se com a impressão de que gostariam de tocar mais um tema, porém o calendário é apertado e o cansaço existe, e após o concerto finalizar manifesta-se. Os fãs ovacionam a banda com “Crypta Crypta”. Ninguém irá esquecer esta noite deslumbrante, ou não estivéssemos no Cine Incrível.
Resumidamente: o meu coração enche-se de alegria enquanto
oiço os riffs de guitarra da, sempre sorridente, Jéssica di Falchi, e do tapping
dos solos memoráveis da, sempre animada, Tainá Bergamaschi, que penetram pelos
meus tímpanos, ribombam no meu cérebro, e que por sua vez dá indicações a todo
o meu corpo para me arrepiar de felicidade. Os blast beats da Luana Dametto
são cortes longitudinais no concerto, que dilaceram-me musicalmente, dando
espaço para que a felicidade invada o meu corpo, e já não possa sair – ficará para
sempre aprisionada nas minhas memórias. E claro a Fernanda Lira, com as linhas
de baixo inigualáveis, mas sobretudo a forma expressiva com que canta, que nos
olha profundamente e nos suga a alma, para que depois nos possa preencher com
euforia musical que perdura, e perdura e perdurará. Um ritual artístico que nos
leva acreditar que possamos viver 1000 anos, e se é para viver um milénio então
que seja a escutar a musicalidade deste quarteto fantástico – que o seu único superpoder
é encher-nos de emoções fortes, positivas e indiscritíveis através das suas
músicas. Nada pode abalar o meu sentimento de completitude, nem mesmo os empurrões
naturais de alguém que se encontra nas imediações dos furacões difundidos sob a
forma de mosh; nem o ser alvejado constantemente, no rosto, pelos longos
cabelos dos metaleiros e metaleiras, que se rendem ao headbanging; nem
mesmo os banhos, incessantes, de cerveja; ou até mesmo os pés que aleatoriamente
são encontrados entre os meus ombros e/ou cabeça, daqueles que se aventuram surfar
nas ondas da multidão sem qualquer prancha. É isto que é musica, é isto que é
arte – divertir ao criá-la e tocá-la, e fazer feliz quem a vê, escuta e sente.
Já não saía assim de um concerto há algum tempo, sair com
aquele sentimento de que “fez sentido”, sentimento de estar satisfeito (apesar
de querer mais músicas), sentimento de querer voltar a assistir a esta
magnifica banda. Parabéns Crypta! Muito obrigado Crypta!
Muito talento nesta banda que já tem provas dadas, todavia
vai ter muito tempo e espaço para mostrar ainda mais o seu valor. Já se nota
nos novos singles algum amadurecimento musical, pelo que aguardamos esperançosamente
por mais temas.
O álbum novo vai ser lançado dia 4 de agosto, para os fãs do
metal que deverão peregrinar até Vagos, aproveitem a pausa entre o 1º e 2º dia
do festival para se refastelarem ao som dessa tão aguardada obra-prima. E quem
sabe em 2024 poderemos assistir à tour do Shades of Sorrow aqui em
Portugal.
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