Z! Live Rock Fest - Uma onda de música melódica
Decorreu entre os dias 8 e 10 de Junho na cidade de Zamora em Espanha, mais concretamente no recinto IFEZA. O recinto tem umas dimensões consideráveis e nunca tive aquele sentimento de claustrofobia, dito isto, houve mais do que espaço suficiente para todos os presentes. É apresentado como um festival de rock e metal, e olhando atentamente para o cartaz vemos claramente que se trata de uma compilação de música melódica e rock/metal mais clássico. Os nomes que se destacam como cabeças de cartaz são: Michael Schenker Group (banda do ex-membro dos Scorpions e UFO), Airbourne e Helloween. Depois para o primeiro dia temos ainda em destaque: Lepoka (folk metal espanhol), Septic Flesh (symphonic death metal grego), Barón Rojo (hard rock e metal clássico espanhol), Ross the Boss Band (ex-membro dos Manowar); Symphony X (um toque de progressive com symphonic metal americano) e Amorphis (mesclando um progressive e melodic death metal da Finlândia); no segundo dia o enfoque fica sob: Gigatrón (death metal espanhol); Saratoga (metal clássico e power metal espanhol), Angra (uma mistura épica de power/neoclassic/ progressive metal do Brasil), Insomnium (melodic death metal finlandês), Angelus Apatrida (thrash metal espanhol) para substituir os Exodus que cancelaram a tour europeia, Eluveitie (folk metal com forte influência do death metal melódico provenientes da Suiça); para o último dia ficávamos aguardar por: Dünedain (power metal carregado de melodia provenientes de Espanha); Crisix (um clássico thrash metal também oriundos de Espanha), Evergrey (progressive metal com camadas de power metal, vindos diretamente do berço do death metal melódico Gotenburgo, Suécia), Haken (progressive metal inglês), Gloryhammer (unindo um power metal com um symphonic metal, vindos do Reino Unido) e Dark Tranquility (death metal melódico de Gotenburgo, Suécia). Fica evidente que a música melódica abundaria no festival.
Existem 2 palcos (Silver Stage
e Copper Stage) que se encontram literalmente lado a lado, o que permite
uma fluidez marcante no que concerne às atuações dos artistas, sem aquelas
clássicas e necessárias (porém não desejadas pelos fãs) pausas para
montagem/desmontagem de equipamento, soundcheck e afins. Deixo um mero
exemplo para ilustrar melhor esta dinâmica: imaginemos que nos 2 palcos vão
atuar a banda A, banda B e banda C; a banda A inicia às 16H no palco Silver, a
banda B inicia às 17H no palco Copper e a banda C atua às 18H no palco Silver;
enquanto a banda A atua, começa a preparação do palco da banda B; quando a
banda A termina já a banda B se encontra preparada para atuar; durante a
atuação da banda B fazem-se os preparativos para a banda C no outro palco; e
assim sucessivamente. Esta dinâmica levanta a questão sobre a influência dos soundchecks
durante as atuações. É bastante pertinente, e na verdade durante o festival
só me lembro de ter presenciado uma situação menos agradável: o soundcheck
dos Evergrey durante a atuação dos Helloween, que pararam imediatamente após
clara manifestação do público em uníssono.
O som estava muito bom mesmo,
aliás acredito ter sido um dos pontos altos do festival. Não estava tremendamente
alto; estava com um volume audível por todo o recinto, mas de uma forma
bastante agradável. Na esmagadora maioria das bandas era audível todos os
instrumentos, não ocorrendo por exemplo o abafamento do baixo pela bateria. E
por isso parabéns aos técnicos de som do festival e das bandas, e a todos os
intervenientes que trabalharam para que isso acontecesse.
Zamora recebeu os seus
festivaleiros com umas condições atmosféricas terríveis, tendo levado ao
cancelamento da festa de abertura “Toro on the rocks” do dia 7. No primeiro dia
oficial de festival (dia 8) choveu de uma forma tremenda, que profetizava um
desfecho nada agradável para o festival, entre sensivelmente as 13H e as 15H na
hora local. Resultando num recinto totalmente enlameado, de difícil locomoção e
nada convidativo para os tão aguardados mosh pits. Ao longo desse dia a
chuva ainda nos iria revisitar durante o concerto de Amorphis, e durante a
madrugada, no entanto, o pior ainda estava por chegar. No dia 9 a chuva fez a
sua primeira investida do dia antes do podermos disfrutar dos Insomnium, que
levou a que os festivaleiros procurassem por abrigo da chuva – alguns
encontraram refúgio pelas zonas de merchandising, outros resguardaram-se
no enorme pavilhão adjacente à zona dos bares do lado do Copper Stage. Acalmou,
momentaneamente, apenas para regressar de uma forma violenta e sem precedentes,
conduzindo a um desfecho que nem os músicos, nem os Z! Livers nem a organização
gostariam. Mesmo antes de entrarem em palco os Angra, já com todo o equipamento
pronto, já demonstrando uma vontade incrível de entrar em palco e brindarem com
uma onda de música épica a todos os presentes, começou o pior momento de todo o
festival. Choveu de uma forma abismal, com uma violência que não deixou ninguém
livre. Todos em fila seguimos para o enorme pavilhão que nos deu guarida
durante as próximas horas. Aguardámos, calmamente, porém ansiosamente, pelo fim da chuva, que
parecia não ter limites. Aguardámos e aguardámos, até o que o maior dos nossos
pesadelos se tornou realidade. Nos speakers ouvia-se em bom espanhol que
os concertos do dia 9 estavam cancelados devido às condições meteorológicas –
estava feito não havia volta a dar, o segundo dia de festival terminava de
forma tão abrupta e amarga. A caminho da saída via-se na cara de todos, os que
abandonavam o recinto IFEZA, uma tristeza imensurável; via-se uma aura de
desapontamento que efluía do enorme grupo de metaleiros que cabisbaixamente
sucumbiam ao desfecho nada agradável deste efémero dia de festival; via-se que
ninguém acreditava que o terceiro dia poderia de algum modo redimir o misto de
emoções vividas naquele mesmo momento. O último dia nasceu com um sol que fazia
troça de todos os que sofreram a desolação da noite anterior, fomentando a
esperança de que o terceiro dia poderia acontecer, e quem sabe até ser um dia
bastante marcante. Um início auspicioso que ascenderia a uma noite no mínimo
memorável. O terceiro dia de festival contra, o que se calhar, todos no dia
anterior pudessem estimar, foi nada mais nada menos do que um dia épico e
maravilhoso. Desde uma onda de Thrash Metal clássico e espanhol protagonizado
pelos incríveis Crisix, que conduziram o recinto do IFEZA a uns mosh pits fenomenais,
que funcionaram como catarse que todos precisavam, após o desgosto amoroso da
noite passada; Culminando com o guitarrista Marc Busqué a tocar um poderoso
riff no meio do mosh pit – foi no mínimo espetacular. Passando pelos
mestres da música progressiva: Haken. Que brindaram o festival com um setlist épico
mas curto, dado tratar-se de um concerto em festival. Seguiram-se os Dark
Tranquility espalhando por Zamora o seu death metal melódico de Gotenburgo. A
tensão musical foi em crescendo durante a tarde até ao anoitecer, e teria o seu
pináculo pela mão(voz) dos melódicos Helloween. Que não só romperam de forma
maravilhosa, como deixaram a sua magia a pairar no ar e nos corações de quem assistiu,
que perdurou durante o resto do festival, e no caso de muitos deixou o seu aroma ressoar até uns dias
depois do festival terminar.
Em relação ao parque de campismo penso que se pedia para ser um pouco melhor e ligeiramente maior. Após a chuva ficou tão enlameado como o recinto do festival. No que concerne ao espaço digamos que por meio da tarde de quinta o espaço disponível tinha mirrado de forma exponencial. Já em relação ao transporte, existiam autocarros que faziam a travessia entre os parques de campismo e o recinto. Sendo nas horas iniciais e finais do festival de hora a hora; E nas horas, digamos mais cruciais do festival de meia em meia hora. O que na minha opinião forneciam um excelente serviço e à altura da necessidade dos festivaleiros.
Apesar do festival não ter começado
com o pé direito, foi possível endireitar-se ao longo do Sábado. Eu diria mesmo
que o 3º dia conseguiu balancear de forma positiva o festival, tendo assim
fechado em grande. A organização poderia ter pensado numa alternativa, e
poderia ter apresentado um plano que mitigasse as condições climatéricas
profetizadas. Contudo, após o festival terminar anunciaram um reembolso de 25%
para todos os que tinham passe de 3 dias, de forma a compensar a situação
causada durante a sexta-feira; e ainda a quem não pedir o reembolso ficará com
um desconto de 25% para o bilhete da futura edição de 2024. Ainda durante o
festival a todos os que tinham apenas bilhete para dia 9 foi-lhes cedida
passagem para o dia 10. Eu diria que não apaga as más memórias vivenciadas pelo
dia assombroso que nos retirou bandas como Angra, Insomnium, Eluveitie e
Airbourne, mas é uma compensação justa e à altura.
Acho que poderá ser feito um esforço para a próxima edição em relação à chuva, não só no recinto para os festivaleiros e bandas, mas também em relação ao parque de campismo para os que decidirem acampar. Em ambos os casos o piso fica completamente ensopado e enlameado o que cria uma experiência nada agradável. Acho que a comunicação poderia ter sido mais célere e mais clara durante o festival, mais concretamente dentro do recinto – algo onde há espaço para melhoria para futuras edições. Em relação à música é continuar nas condições apresentadas em 2023, e em termos de cartaz é continuar, pois o melhor mesmo do festival foi o cartaz com um peso musical enorme.
A título de resumo:
Aspetos positivos:
1) Excelente cartaz, com um enorme peso musical – ideal para os amantes da música melódica;
2) Maravilhosa qualidade de som – volume perfeito e um balanço harmonioso e audível de todos os instrumentos em palco;
3) Os 2 palcos gémeos – 2 palcos lado a lado, que não envolvem uma logística de mobilização ou de calendarização pela parte dos festivaleiros.
Aspetos negativos:
1) As condições atmosféricas – tanto no recinto como no parque de campismo, ficando totalmente enlameado;
2) A comunicação poderia ter sido mais célere e clara no interior do recinto para com os festivaleiros.
O melhor concerto:
Helloween sem dúvida. Iluminaram os corações de todos os presentes em, Zamora.
A melhor surpresa:
Crisix. São um oceano de Thrash Metal daquele que só apetece mergulhar em forma de mosh pits. Foram por estranho que pareça, uma lufada de ar fresco harmonioso, mas caótico no meio de tanta música melódica.
A maior desilusão:
O facto de os Angra não terem tido oportunidade de mostrar o seu rol de música épica a todos os presentes.
No fundo penso que seja um festival que vale a pena experienciar, em especial para os amantes da música melódica. E apesar da experiência não ter sido 100% incrível, devido às condições atmosféricas, faço um balanço positivo do festival. Recomendo vivamente este festival, e ficarei ansiosamente a aguardar pelo anúncio do cartaz da edição de 2024.
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